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Sany, simplesmente

Um dos principais nomes da velha guarda do funk carioca volta aos holofotes como headliner máximo do Festival Gop Tun

por Artur Tavares Atualizado em 1 abr 2022, 02h58 - Publicado em 1 abr 2022 02h53
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(Clube Lambada/Ilustração)

any Pitbull é um herói e um dos nomes mais importantes da música brasileira. Integrante de uma geração que transformou os bailes funks cariocas em um gênero que hoje está na boca de todo mundo – de brasileiros a gringos, sem exceção –, Sergio Reis Silva viu tudo acontecer. Estava lá quando DJ Marlboro lançou o primeiro funk cantado em português, quando Claudinho e Buchecha conquistaram rede nacional, quando os meninos do Bonde do Tigrão nos ensinaram a passar cerol na mão, quando Tati Quebra-Barraco, Valesca Popozuda e Deize Tigrona abriram as portas do pop. Se bobear, Sany viu nascer alguns dos mais de 25 filhos de MC Catra – os dois eram amigos, e o DJ tem um acervo único do MC morto em 2018.

Nos anos 2000, Sany ganhou o mundo com suas MPCs muito antes de Kanye West popularizar a bateria eletrônica com seus raps. Foi descoberto por alemães que ajudaram a impulsionar o funk entre os beatmakers europeus, como Diplo, mas ele não era jovem. Sua carreira já era frutífera há 20 anos, mas naquele momento ele ganhou uma projeção inédita. Rodou o mundo tocando nos nightclubs mais bombados. Animou desde a Fabric, em Londres, até as noites I Love Funk, em Nova York. Em São Paulo, foi residente do Bar Secreto por nove anos.

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Mesmo antes da pandemia da covid-19, Sany já estava se distanciando dos palcos. “Me afastei um pouco do funk para dar espaço para uma renovação que está falando com um público bem mais jovem”, conta Sany, que hoje trabalha com produção de trilhas sonoras para produtos audiovisuais, como televisão e cinema. Sua sonoridade é clássica demais para uma música sempre em renovação. Se ele viu tudo acontecer, a atual geração, de Anitta ao 150 bpm, pareceriam alienígenas em suas mixagens.

No próximo 2 de abril, Sany está escalado como um dos headliners do Festival Gop Tun, festa que comemora 10 anos do coletivo eletrônico paulistano: “Já me avisaram que vou tocar até quando eu quiser ou quando a segurança mandar fechar. Estou separando bastante coisa para mostrar um pouco pra galera o que era funk”, revela. Sua apresentação será um passeio por 35 anos de funk, contará com raridades nunca lançadas em álbuns, clássicos e também um registro de gringos que hoje estão tocando funk carioca sem nunca terem pisado no Brasil.

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Nós conversamos com Sany sobre história, legado, a nova geração e a finalmente alcançada inclusão do funk no rol da música eletrônica.

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(Sany Pitbull/Arquivo)

Você começou no funk ainda nos anos 80, é um pioneiro da produção musical do gênero no Rio. Como eram os rolês na época, antes do funk explodir e se internacionalizar nos anos 2000?
O que hoje as pessoas têm de imagem em relação ao baile funk, era uma outra coisa. O que ficou nessa evolução… foi mudando o ritmo e o estilo, mas o nome baile funk sempre foi o mesmo. Na minha geração, não tinha ainda funk em português. Havia pouquíssimas coisas em São Paulo, mas o primeiro registro que temos é o primeiro disco do Dj Marlboro, chamado Funk Brasil, de 1989.

Essas músicas chegaram na nossa mão, nas mãos dos DJS, em 1988. Grandmaster Rafael e o Marlboro já brincavam de fazer versões em português das músicas gringas. Quando você pega os dois primeiros volumes do Funk Brasil, não vê nada de sonoridade brasileira, a não ser a língua. Todas as programações de baterias e os arranjos eram americanos.

A galera no Brasil tinha muito pouco tecnologia. Não era só uma questão de grana, mas também de não ter acesso aos equipamentos, e até para conseguir discos você tinha que conhecer alguém que trabalhasse em uma companhia aérea, para poder trazer esses discos. Quando o Marlboro lançou o disco dele, e o Grandmaster Rafael soltou coisas no LP da Furacão 2000, a galera aqui foi se reinventando, arranjando um jeito de produzir suas coisas.

No início, eram as fitas cassete. Você tinha dois gravadores, botava um pra tocar a batida, e ficava sampleando em cima daquela batida no tape deck e gravando na outra fita aquilo que estava fazendo. Se errasse, voltava e fazia de novo. Não tinha edição, não tinha como ajustar um cantor fora do tom. Às vezes, pra fazer uma música, eram 15 tentativas. Depois, chegou o aparelho de minidisc, uma fita cassete digital. Isso melhorava a qualidade do áudio, acabava com o chiado das fitas que ficavam sendo regravadas.

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Com o MD, a coisa melhorou. Isso durou mais ou menos de 1992 até quase 1998, quando começaram a chegar os CDs graváveis. Junto disso vieram computadores, alguns softwares, mas nada super profissional. Todos os estúdios dos grandes clássicos do funk com mais de 30 anos foram produzidos dentro de casa, microfone na cozinha ou no banheiro para ter reverb na voz, e o computador no quarto ou na sala. Ninguém falava em home studio.

Com a chegada dos CDs, esses disquetes foram jogados para o canto. Ninguém tirava mais o áudio do disquete para passar para CDs, porque o funk veio se transformando nesse período de dez anos. O funk se molda um pouquinho a cada cinco anos mais ou menos. Veio o Bonde do Tigrão, com 125 bpms, depois o Naldo, cantando sobre outras coisas, passou um tempo e apareceu a Tati Quebra-Barraco, e agora o 150 bpm.

“No início, eram as fitas cassete. Você tinha dois gravadores, botava um pra tocar a batida, e ficava sampleando em cima daquela batida no tape deck e gravando na outra fita aquilo que estava fazendo. Se errasse, voltava e fazia de novo. Não tinha edição, não tinha como ajustar um cantor fora do tom”

Mas, voltando aos disquetes, eles ficaram guardados. Eu tinha uma caixinha com 150 deles, que ficaram uns quinze anos na casa da minha mãe. Nem lembrava mais, não sabia o que tinha. Esses registros ficaram perdidos no tempo, até que minha mãe faleceu, em 2008. Quando fui na casa dela para pegar as coisas, abri meu guarda-roupas e me deparei com essa caixa, que não via há quase 10 anos.

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Resolvi digitalizar, transformar tudo em mp3, revisitando essas coisas. Lancei um mixtape chamado Caixa de Pandora, só com as coisas que fizeram sucesso nos bailes dos anos 1990 mas que não foram lançadas em disco. Eram coisas muito íntimas, porque você tocava em um baile toda semana, produzia músicas para aquele lugar. Quando você passava essas músicas para seus amigos, às vezes elas não tinham o mesmo impacto do que no seu baile.

Fui digitalizando todos os disquetes, algo muito trabalhoso, porque era tudo em tempo real. Se o disquete tinha uma hora de áudio, era uma hora dele tocando e uma hora dele gravando. Depois, para a gravação e começa a recortar, colocar nome… deu um trabalho danado. O mixtape foi um set mixado, de uma hora e meia, e também soltei para os DJs os packs com todas essas músicas soltas. Caixa de Pandora chegou até o décimo quinto volume. Alguns amigos meus também me forneceram seus mini disks, eu fazia a cópia e ficava com tudo.

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(Sany Pitbull/Arquivo)

Achei gravações de Mr. Catra, coisas que ele cantou e não gravou, eram testes que o Catra fazia. Tinham muitas músicas de quando o Mc Sapão saiu da cadeia, e muitos shows gravados.

Então, a galera do festival me chamou, porque tiveram acesso às mixtapes na época, e querem que eu faça essa história, essa linha do tempo a partir do Caixa de Pandora, mostrando a evolução do funk, e como ele começou sendo influenciado por gente lá de fora, sendo que hoje influencia produtores do mundo inteiro que nunca nem botaram os pés no Brasil. Hoje, você tem beat de funk em músicas finlandesas, suecas, chinesas. Quem iria imaginar que um dia Madonna ia querer cantar com uma artista de funk?

E eu, como sou um amante e colecionador de música desde sempre, recebo de muitos amigos essas versões internacionais, sejam remixes das próprias músicas em baile funk, sejam produções originais. Então, meu set vai ser isso, as gravações, os remixes que outros DJS fizeram dessas músicas, e as influências que o baile funk causaram pelo mundo.

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Se você imaginar que músicas como “Rap do Salgueiro” e artistas como Claudinho e Buchecha têm 30 anos, vai ser muito legal fazer essa apresentação. Eu fecho um palco, já me avisaram que vou tocar até quando eu quiser ou quando a segurança mandar fechar. Estou separando bastante coisa para mostrar um pouco pra galera o que era funk.

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(Sany Pitbull/Arquivo)

O funk nasce aqui no Brasil em um mesmo momento que o techno e a house music explodem nos EUA e na Alemanha, mas diferente desses outros dois gêneros, o funk nunca foi associado à música eletrônica, embora seja feito de samples, drum machines e outros instrumentos iguais. Por que foi assim, e ainda é, de certa forma?
Isso sempre foi assim no Brasil. Mas, tudo é eletrônico. Quando você faz um hip-hop, o que o Matuê ou os Racionais MCs fazem, é música eletrônica – a partir do momento que está fazendo uma música eletronicamente.

Por mais que os números do funk mostram que ele tem uma aceitação muito grande, que o terceiro maior canal de YouTube do mundo é um canal de funk, ainda sofremos um preconceito muito grande. É justificável essa quantidade de artistas, principalmente americanos, quererem fazer colabs com produtores brasileiros, e quando você pega o trabalho que a Anitta faz pelo mundo, ela não é respeitada no Brasil da forma que é lá fora. As pessoas até baixam a cabeça para a Anitta, mas quem duvida do que essa garota faz é só pegar os números, que respondem por ela. E isso não só a Anitta, como o Mc Kevinho, o MC Kevin, que gravou com o Post Malone.

Além do preconceito, a música eletrônica que predomina nos grandes festivais, como a house music, é tida como música de branco, apesar de terem sido feitas nos guetos. Essa música feita pelos subúrbios ao redor do mundo é identificada aqui no Brasil como eletrônica, mas o funk não é porque tem esse estigma que está agarrado e que será levado para sempre, e que inclusive virou uma música: “é som de preto, de favelado”. A estrofe continua: “mas quando toca, ninguém fica parado.” O início que deixa a marca, “é som de preto, de favelado”, então, obviamente, se é de preto e de favelado não tem qualidade.

“Essa música feita pelos subúrbios ao redor do mundo é identificada aqui no Brasil como eletrônica, mas o funk não é porque tem esse estigma que está agarrado e que será levado para sempre, e que inclusive virou uma música: ‘é som de preto, de favelado’”

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Essa é a leitura de um cara que está na cena há mais de 30 anos. Eu toco ganhando meu cachêzinho desde 1986. Passei junto com muita gente, mas hoje migrei e trabalho com trilha sonora para audiovisual. Me afastei um pouco do funk para dar espaço para uma renovação que está falando com um público bem mais jovem. Decidi pegar minha expertise, fui estudar cinema, e usar isso em cinema e televisão. Mas vi e senti, durante esse período todo, essa marca que o funk tem. Estou te dizendo tudo isso para que você entenda que, no Brasil, o funk não é visto como música eletrônica por puro preconceito.

Você fez trilha para Arcanjo Renegado, certo?
Fiz muita trilha pra Regina Casé, muita coisa para a Preta Gil, algumas coisas para o Breno Silveira, e agora estou trabalhando com o José Junior, do Afroreggae, que está fazendo um monte de séries que contam o cotidiano carioca e suburbano. A maioria do elenco é negra, diferente de quando os espaços da dramaturgia reservam papeis de motorista para os negros. Já nesses trabalhos, as médicas, os juízes – sejam eles do bem ou do mal – são negros. Estou me identificando muito com esse trabalho, justamente por dar visibilidade.

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(Suny Pitbull/Arquivo)

O funk hoje em dia está muito associado ao pop, embora essa não seja a realidade dos bailes em geral. No que a música pop ajuda a cena, e como ela dificulta o entendimento de que ela também faz parte de um nicho underground?
Tudo é uma evolução. O funk foi muito ajudado, principalmente por duas pessoas. A primeira é Xuxa Meneghel, que, quando estava no auge na Globo, colocou o DJ Marlboro no casting do Xou da Xuxa. Ela levava um ritmo que não era nacional, apenas carioca, para a Globo, que tinha um alcance violento em todo o Brasil. A segunda pessoa foi Lulu Santos, que gravou o disco Eu e Memê, Memê e eu, um artista de rock fazendo funk com o DJ Memê. A abertura do disco é uma vinheta do DJ Marcinho, na época o maior DJ das rádios cariocas. Então, eles foram as duas pessoas que mais ajudaram o funk quando ele não era pop, que se aproximaram dele porque se identificavam com ele.

Quando o funk chegou à internet, veio o sertanejo junto, mas de certa forma vendo que o ritmo estava crescendo. Esses caras são muito analíticos, muito profissionais, enquanto o funkeiro da favela não tem essas informações – aliás, os grandes empresários do funk hoje em dia não são mais os favelados –. Esses outros gêneros viram, analisando os números das plataformas, que o funk estava subindo como um foguete.

Embora digam que se aproximam para poder sugar, para o funk acaba sendo bom, porque toda vez que algo se aproxima do funk é para bater: era a polícia batendo, pedindo para encerrar. Os bailes funks são proibidos no Rio de Janeiro, mas acontecem nos clubes porque já se envolveram no pop. O pop é funk, o funk é pop. O sertanejo tem funk, o axé tem um pouco de funk. Aí vem Anitta, Ludmilla… tudo virou pop, virou funk. Mas, o baile funk, a cultura funk até hoje são cuidadas pela Secretaria de Segurança Pública, e não pela Secretaria de Cultura.

Então, quando vêm esses gêneros, essas pessoas que se aproximam, por mais que seja um olhar dos empresários de surfar essa onda, acaba que para o funk é legal, porque o artista, o produtor, ou o beat colocado, estão levando o funk para outros lugares, sejam festivais de forró, rodeios, coisas que vão ajudando.

Eu sou muito suspeito, cara. O que você perguntar pra mim sobre funk, vou falar que está bom [risos]. Nunca vou falar que tá ruim pra caralho. Tá tudo certo. A gente chegou longe pra caramba. Vi uma outra geração chegando depois e levando para muito longe. O que a Anitta faz, o que o Kevinho faz, o que o Denis faz. Eu olho e falo: “é isso aí!”. Aí me falam que os caras estão ganhando dinheiro, e minha geração não ganhou. Tá tudo certo, mano! Garrincha foi o maior jogador e não ganhou dinheiro. Hoje, Gabigol é milionário. É assim, as coisas vão se transformando. Não significa que não há verdade e que não há amor. Não houve dinheiro pra nós, isso é verdade, nosso cachê de show era R$ 1.000. Hoje pra tu tirar o Denis de casa, não é menos de R$ 100.000.

“Os bailes funks são proibidos no Rio de Janeiro, mas acontecem nos clubes porque já se envolveram no pop. O pop é funk, o funk é pop. O sertanejo tem funk, o axé tem um pouco de funk. Aí vem Anitta, Ludmilla… tudo virou pop, virou funk. Mas, o baile funk, a cultura funk até hoje são cuidadas pela Secretaria de Segurança Pública, e não pela Secretaria de Cultura”

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(Suny Pitbull/Arquivo)

Você é um cara que se manteve na cena todo esse tempo sem perder as raízes, tocando na MPC, em discos de vinil. Ainda no bonde da pergunta anterior, como é hoje em dia a profissão de DJ de funk, comparando com o trampo das chamadas estrelas do funk?
Dentro do elemento do funk, o ponto mais forte não é nem o DJ nem o MC, e sim no público. Foi o público do Rio de Janeiro, principalmente no subúrbio e nas favelas, que fez essa música ser a música do Rio. Hoje, vejo DJs que não têm essas raízes e acho incrível. Tem gente que vai falar que é apropriação, e também acho que os grandes empresários do funk hoje deveriam ser os negros e favelados.

Eu estou com 53 anos. Algumas dessas perguntas que você está me fazendo, se fossem feitas há 20 anos, eu responderia com muito ódio e muita raiva, puto pra caralho. Mas chega uma hora que você fala “meu irmão, tá tudo certo.” Acho que o funk já faz o que se propôs a fazer desde quando era música de baile de clube de subúrbio, antes de ter baile em favela, que é alegrar, fazer as pessoas terem um momento de paz, extravasar.

Então, acho que o funk está aí para cada um fazer o que bem entender dele. Mas, claro, seria muito legal se todo mundo olhasse para trás e reconhecesse a história e o caminho que muitas pessoas percorreram. Isso não é um problema específico do funk, e sim do brasileiro que não tem memória, esquece.

É muito complexa a sociedade que vivemos e as possibilidades que cada um pode gerar a partir do funk. Não consigo tirar o funk de mim, e a imagem do funk está atrelada a mim para sempre. Eu trabalho com audiovisual mas dizem que sou o cara do funk. Não sou, não lancei nada, eu fui mais um. Quando cheguei, essa história já tinha quase 20 anos. Isso começou lá nos anos 1970. Aí veio minha turma, depois outra e outra. Uns foram casando, ficando pra lá, outros foram trabalhar, e eu fiquei. Mas paguei um preço muito alto por isso, três casamentos. Puta que pariu! [risos] É… foda!

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(IHATEFLASH/Fotografia)

Mas você se divertiu, né?
Cara, posso falar que me diverti. Mas, chega uma hora que a diversão começa a perder o brilho. Quando comecei a fazer as minhas primeiras viagens internacionais, eu ia por um cachê: pagavam minha passagem e 150 euros. Eu ia amarradão. Mas, chegou uma hora que eu queria que alguém estivesse comigo conhecendo as coisas. Hotel é uma coisa muito impessoal, estrada é tão solitária, e as pessoas que você gosta estão em casa. Quantos Natais e Dias das Mães eu perdi? Quanto aniversários dos meus sobrinhos eu não pude estar presente? Obviamente que eu estava trabalhando, mas depois vi o preço que se paga, e é muito alto. Mas, a gente se diverte.

“O funk está aí para cada um fazer o que bem entender dele. Mas, claro, seria muito legal se todo mundo olhasse para trás e reconhecesse a história e o caminho que muitas pessoas percorreram. Isso não é um problema específico do funk, e sim do brasileiro que não tem memória, esquece”

Tem gente que fica bêbado, louco, doido, conhece drogas e uma porrada de coisas. Eu não bebo, não uso drogas, sou um cara muito tranquilo. Todas essas dores que passei foram sem anestesia. Eu estava vendo meus relacionamentos se deteriorando, porque eu era muito ausente.

Quando você fala em diversão, ela tem a ver com alegria. Mas, no meu caso, vem com sofrimento também, com a ausência , e isso não é bom. Tenho dois filhos, o mais velho com 25 e a menina com 16. O meu filho fala para a irmã desde pequeno: “aproveita porque na minha época não era assim”. Eu nunca estava perto, não era um pai presente. Eles moravam comigo, mas eu estava sempre na rua. Quando minha mãe faleceu, em 2008, passei a abdicar de algumas datas. Parei de trabalhar de domingo e nos Natais. E nunca mais trabalhei, a não ser em ocasiões muitíssimo especiais. Onde eu estivesse no Brasil no sábado, eu pegava o primeiro voo no domingo para almoçar na minha casa.

O funk precisou chegar a 150 bpm pra entrar nas festas de música eletrônica, cruzando gêneros principalmente com o techno industrial, ao mesmo tempo que também está muito próximo do reggaeton. Qual a próxima onda do funk?
Como o funk está sempre mudando a sonoridade… o Claudinho e Buchecha tinham batidas mais eletrônicas. O instrumental do “Rap do Salgueiro” não tem tamborzão. O Bonde do Tigrão e a Tati tinham tambores. O Mr. Catra tinha a linguagem, mas sem tambor, só o beatbox. Depois veio o 150 bpm… Acho que o funk vai virar a tal da pisadinha. Porque esses produtores jovens, a molecada de 15 a 18 anos – não estou falando dos grandes, mas dos meninos com um laptop dentro de casa na comunidade –, está ouvindo de tudo. Isso vira um liquidificador na cabeça dessa galera. Então, para onde o funk vai eu não sei, mas vai para onde ele quer ir. Como hoje é tudo conectado, como todo mundo é influenciado por alguma coisa, o funk vai continuar tendo esse nome, mas a sonoridade deve ser aproximar do piseiro, da pisadinha, essa coisa mais sensual, de dançar mais agarradinho, uma coisa que Ludmilla e outros MCs fora do eixo Rio-São Paulo já estão fazendo.

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