pandemia da covid-19 trouxe consequências para além da doença, como a perda de emprego e a falta de renda, o que levou muitas pessoas a irem morar nas ruas. Segundo dados do Ipea divulgados em 2020, mais de 220 mil brasileiros vivem nessa situação. O aumento foi de 140% em relação ao ano de 2012, mostrando que as ações emergenciais propostas ao longo dos anos não são suficientes.
Em São Paulo, a maior capital do país, o número de pessoas sem moradia passou de 24.344, em 2019, para 31.884 no final de 2021 – ou seja, um aumento de 31%, de acordo com o Censo da População em Situação de Rua, feito pela Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da prefeitura. A pesquisa aponta que o perfil majoritário é de homens com idade economicamente ativa média de 41,7 anos, naturais da cidade de São Paulo (39,2%) e pretos ou pardos (70,8%).
Foi vendo com indignação esse cenário caótico que Vivi Torrico decidiu agir: se reuniu com seu marido, o músico João Gordo, os filhos e o amigo e artista de rua Mundano para criar o projeto Solidariedade Vegan. O objetivo inicial era levar marmitas para quem estava com fome mas, ao se envolver cada vez mais com a população vulnerável, sentiu que precisava ir além e ajudá-los na busca por empregos. Assim nasceu o Trampolink – projeto que, desde abril do ano passado, já ajudou na contratação de, em média, 90 pessoas.
Acompanhamos o recrutamento na ocupação Luiz Gama, que nasceu há três meses e é coordenada pela Frente de Luta por Moradia. O prédio de quatro andares tem 27 apartamentos, como são chamados os quartos, e cada um acomoda até três famílias. Lá, alguns trabalham com bicos, vendem itens no semáforo ou já tem um emprego temporário. Porém, a maioria está em busca de um sonho: a carteira assinada.
Quando a equipe do Trampolink chega, a fila para o cadastramento logo se organiza e todos os documentos são separados. É necessário apenas o RG e a carteirinha de vacinação. Na entrevista, Vivi pergunta a idade, a experiência, a escolaridade e se há alguma questão física. Após a ficha ser preenchida, ela fotografa o candidato e todas essas informações vão para um banco de talentos. A partir daí, o currículo é montado e fica disponível para as empresas parceiras e para a própria pessoa enviar para onde quiser.
“O emprego é uma segurança que garante a comida do dia seguinte e a possibilidade de um futuro melhor. Vemos uma completa mudança em quem é contratado: há o aumento da autoestima e a satisfação pela vida”, afirma Eduarda Vaz, coordenadora da ocupação. “Essa parceria com o Trampolink nos dá esperança e nos deixa muito felizes.”
“O emprego é uma segurança que garante a comida do dia seguinte e a possibilidade de um futuro melhor. Vemos uma completa mudança em quem é contratado: há o aumento da autoestima e a satisfação pela vida”
Eduarda Vaz