e todos os grandes profetas da Antiguidade, Sidarta Gautama era o único vegano. O Buda acredita que nessa roda cármica toda vida importa, por isso não é justo valer-se de outra em benefício próprio. Enquanto o budismo se espalhou pelo leste asiático ao longo dos séculos, as práticas alimentares consolidaram-se na mesma escala, principalmente entre aqueles que seguiram a vida monástica.
Inspirada nessa história fundamental, a chef paulistana Telma Shiraishi passa a oferecer o Shojin Ryori no menu degustação do seu restaurante, o requisitado Aizomê. São oito tempos com sabores típicos japoneses e alguns toques regionais, muitos vegetais, algas, cogumelos – e, você não entendeu errado, não há nenhum peixe cru.
“É um momento de debater a sustentabilidade e as práticas do passado. Um dos preceitos do Shojin Ryori é não fazer mal aos animais, por isso não se comem bichos da terra e do mar. Valoriza-se muito as dádivas da natureza, das montanhas, dos campos”, explica Telma por detrás de seu balcão enquanto prepara uma pasta de sementes de gergelim e tofu, que será servida com hoshigaki, caquis desidratados à moda japonesa.
A chef conta que o Shojin Ryori foi instaurado pelo mestre Dogen, fundador do budismo Zen, no início do século 13. Sua formalidade de apresentação – em pequenas porções e com etapas bem determinadas – e sua preferência pela sazonalidade acabaram inspirando o Kaiseki, a atual alta gastronomia japonesa, tão desejada ao redor do mundo. Só que, hoje em dia, as expressões regionais foram sendo substituídas por pescados, ou então por porcos, frangos e seus miúdos.
“É um momento de debater a sustentabilidade e as práticas do passado. Um dos preceitos do Shojin Ryori é não fazer mal aos animais, por isso não se comem bichos da terra e do mar. Valoriza-se muito as dádivas da natureza, das montanhas, dos campos”