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BBB 22 realmente foi um flop?

Os números dizem que sim, mas o ponto mais baixo, na verdade, é uma final – e um top 6 – todo masculino em um jogo de cartas marcadas

por Alexandre Makhlouf Atualizado em 27 abr 2022, 11h47 - Publicado em 27 abr 2022 01h31
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(Clube Lambada/Ilustração)

hegou ao fim mais uma edição do Big Brother Brasil – para a felicidade de muitos e a tristeza de muitos também, pelos números das votações. Na última terça-feira, 26 de abril, Arthur Aguiar sagrou-se campeão do BBB 22 com 68,96% dos votos, deixando Paulo André e Douglas Silva em segundo e terceiro lugar, respectivamente, com 29,91% e 1,13%. Ao todo, foram mais de 751 milhões de votos, um recorde para o programa, o que significa que Arthur teve um total de 518.142.254 milhões de votos – quase 2,5 vezes a população do nosso país. 

Isso significa que a 22ª edição do BBB foi um enorme sucesso? Não necessariamente. Não foram poucas as notícias de colunistas especializados comentando a baixa audiência do programa. O reality teve a terceira final menos vista da história, de acordo com dados prévios de audiência: foram 700 mil domicílios a menos na Grande São Paulo acompanhando a vitória de Arthur em relação ao ano passado, quando Juliette saiu vitoriosa. O último domingo da edição, inclusive, teve recorde negativo de audiência: 20 pontos na Grande São Paulo, valor considerado baixo para a exibição de um episódio que definiu a grande final.

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Além disso, quem acompanhou o BBB 22 desde o início (me incluo aqui, torci muito pra Lina e, na minha cabeça, ela é a campeã moral dessa edição fraca) sabe que o público ficou bem irritado com o clima morno e de conciliação-eterna-good-vibes que pairou sobre a casa menos vigiada do Brasil. Enquanto entoavam “A gente não vai errar” a cada eliminado nas primeiras semanas, mal sabiam os participantes que estavam errando bastante ao entregar o exato oposto do que o público esperava. O que também diz muito sobre a gente, na minha opinião: enquanto bradamos, na edição passada, que tortura psicológica não era entretenimento, parece que em 2022 muita gente queria ver exatamente isso.

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CPI da votação

A dinâmica de votação para eliminar um participante também é algo que deveria mudar para que o resultado fosse mais justo. Do jeito que ela funciona atualmente – e desde sempre, na verdade –, cada pessoa que deseja votar pode fazer isso sem limites, o quanto quiser. O uso de bots – robôs programados para executar determinada tarefa na Internet – não é incentivado pelo programa, claro, mas também não existe nenhuma proibição para que torcidas usem isso a seu favor. E a gente sabe que isso acontece.

O tweet acima, em que o usuário “culpa” os adolescentes desocupados pelo votos massivos em Arthur Aguiar, respondia uma fala do perfil @falodebbbrasil afirmando que, por dia, conseguia votar 70 mil vezes em quem deveria ser eliminado para manter o ator e cantor na casa. Setenta mil votos em um dia significa um voto a cada 1,23 segundo, o que é impossível de ser colocado em prática com o processo de verificação que a Globo determina para computar um voto – além de ser impossível que alguém passe 24 horas ininterruptas em frente ao computador realizando tal tarefa. A conta @falodebbbrasil, aliás, consta como suspensa no Twitter.

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Moral e bons costumes?

Fato é que, com ou sem bots, Arthur Aguiar tem sua torcida, a “Padaria” – os fãs ganharam esse nome por quem criticava o participante depois dos debates sobre sua alimentação na casa (menos regrada e mais próxima à realidade do que propõe sua esposa, Maira Cardi, que é “coach de emagrecimento”, seja lá o que isso significa) – e ela fez seu papel para mantê-lo na casa durante mais de três meses.

E, ainda que esses fãs existam, é impossível não tocar em outro ponto que é muito precioso para nós: o ganhador dessa edição é um cara que manipulou muitas mulheres dentro do BBB 22 para legitimar seu discurso, que traiu sua esposa quando ela estava no puerpério – e o stress foi tanto que os pontos da cesárea romperam. Não vamos entrar no mérito de quem merece ou quem não merece o prêmio, porque a gente acredita em um sistema democrático (ainda que ele sabidamente possa eleger homens abomináveis, como em 2018), mas chega a ser triste ver um resultado como esse em ano de eleição. 

Estou levando para um lado extremo? Sim. E a culpa pode ser do Sol em Peixes ou do semi-burnout que acomete quase todos os brasileiros não alienados, mas eu sinceramente acredito que é só o desgaste de ver que, em uma edição com mulheres negras que tiveram protagonismo, uma travesti servindo diversidade e coerência e duas últimas edições do programa que coroaram uma mulher nordestina e uma mulher preta, o título de vencedor agora vá para um homem como Arthur.

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Mais do que isso: tivemos um top 6 totalmente masculino nessa edição. Depois da saída de Jessi, a 14ª eliminada do BBB 22, sobraram só homens na casa. Representativo de como a gente vota? Sim. Faltou um pouco de carisma da Jessi e de habilidade no jogo? Também acho que sim. Mas como é fácil para quem vota condenar e eliminar sempre as mulheres, especialmente se elas forem pretas, né?

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E por falar em representatividade, é claro que é de se comemorar que tenhamos dois homens pretos na final. Paulo André e Douglas Silva jogaram, se dedicaram, venceram provas e movimentaram o jogo. Pessoalmente, tenho problema com o Clube do Bolinha, a macholândia e essa instituição muitas vezes não dita da aliança-entre-os-meninos-que-derruba-todo-mundo porque fui uma criança viada e um adolescente ainda mais viado que sentiu os efeitos tóxicos disso na pele, mas não dá pra negar que foram bons participantes. E, depois da noite de ontem e desse resultado, prefiro acreditar que foi tudo uma pegadinha e que o vencedor, na verdade, é o Tadeu Schmidt, que conduziu muito bem seu primeiro BBB.

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