uando a pandemia da covid-19 começou no ano passado, tomei a decisão de cultivar cannabis em casa. Assim como muita gente que se viu presa sem ter muita opção do que fazer, tornei a vontade de fumar um em uma experiência de reconexão com a natureza. Estudei – e venho estudando – a fundo como produzir plantas de altíssima qualidade. Importei sementes, conheci outros growers, coloquei a mão na massa, e descobri que muitos outros amigos e conhecidos iniciaram seus cultivos também.
Como qualquer maconheiro, nunca achei que a proibição fosse suficiente para dar conta de evitar o uso ou o abuso de qualquer droga. No caso da cannabis, especificamente, nem consigo considerá-la uma droga. Faço uso recreativo porque não tenho nenhuma condição médica diagnosticada, mas acredito plenamente em seu poder medicinal. Para mim, é como unir o útil ao agradável.
Mas sempre me incomodou dar dinheiro para o tráfico, e isso em qualquer situação. Experiências recentes de descriminalização e regulamentação completas, como a do estado americano do Oregon, mostram como uma sociedade pode viver bem com o consumo legal de LSD, MDMA, cocaína, ou seja lá o que for. A vida é de cada um para vivê-la como bem entender, e melhor comprar sua substância favorita na lojinha, pagando os devidos impostos, do que alimentar a criminalidade – que é, no final das contas, apenas uma arma do estado para exterminar pretos, pobres, e todos aqueles marginalizados nesse sistema econômico escroto que vivemos.
Sou uma pessoa jovem, esclarecida, consciente dos meus usos. Não preciso da cannabis como o casal de senhores que considero meus avós de consideração. A fim de preservá-los, contarei a história deles com nomes fictícios, afinal o que importa é a lição que dela fica. Carlos e Juliana já passaram dos 60 anos de idade. São aposentados, vivem em um sítio delicioso no interior de São Paulo.