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Renascimento do Carnaval

As festas, assim como a população brasileira, são diversas e se transformam ao longo do tempo. Contamos como são as comemorações em diferentes regiões

por Beatriz Lourenço 16 fev 2023 11h23
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(carnaval/Redação)

Quando pensamos no Carnaval, logo vem à mente as fantasias divertidas, grandes carros alegóricos e as ruas cheias de gente. E após três anos com saudade da festa, 2023 marca a volta dessa comemoração tão icônica. Mas, apesar dela ser uma das marcas do Brasil, sua origem é estrangeira – e muito antiga. Ainda assim, cada uma das regiões do país incorporou sua essência, deixando a data com um brilho próprio.

Segundo a historiadora e professora PUC-PR, Maria Cecília Pilla, há uma discussão extensa acerca da origem do Carnaval. Por exemplo: Um estudioso espanhol chamado Julio Caro Baroja afirma que ela está ligada ao cristianismo e surgiu na Idade Média por conta da quaresma, período que antecede a Páscoa cristã. Mas, ao mesmo tempo, o pesquisador não nega suas origens pagãs. 

Outros especialistas acreditam que o evento nasceu em Roma e, ainda, há quem diga que ele surgiu pela primeira vez no Oriente Médio. “O que não há dúvidas é que na Antiguidade havia rituais para marcar a passagem do tempo e a mudança de estações – e esta pode ser uma possível origem para a data”, analisa Maria Cecília. 

No Brasil, o Carnaval chegou por meio dos colonizadores portugueses nos séculos XVI e XVII, manifestando-se inicialmente por meio do entrudo – uma espécie de folia popular entre escravos que acontecia nas ruas. “Os participantes jogavam ovos, bolas de água suja e pintavam os rostos. Os brancos e ricos, por sua vez, ficavam em casa e viam tudo pela janela”, explica a professora.

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Com o tempo, a prática vai se transformando e as elites cariocas acabam tomando conta das ruas, excluindo as classes inferiores. A partir daí, as brincadeiras e a capoeira são proibidas e criminalizadas. É nessa época que surgem os carros alegóricos, os concursos e os corsos. Os primeiros bailes aparecem em casarões de pessoas importantes e o ritmo da dança era a polca e o maxixe. 

A classe média passou a participar do feriado na forma de cordões e ranchos carnavalescos. Um deles foi o Rosa de Ouro, fundado pela maestrina Chiquinha Gonzaga. Foi dela que saiu a ideia das marchinhas com letras compostas especialmente para animar os foliões: “ó abre-alas que eu quero passar”, criada em 1899, é conhecida até hoje.

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O primeiro samba só surge em 1916. A canção Pelo Telefone é de um cantor e compositor chamado Donga que, tinha apenas 26 anos na época. A canção foi concebida durante uma roda na casa de Tia Ciata, uma mãe de santo que emprestava seu lar para encontros populares. 

“O que percebemos é que o Carnaval vai se popularizando com o tempo. Ainda assim, ele passou por algumas dificuldades. Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas exige que as escolas tenham alvará”, diz Maria Cecília. “Porém, nos anos 1960, as escolas passaram a ter grandes investimentos de bicheiros. O que acontece até hoje em alguns lugares.” 

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A festa do pertencimento e do trabalho

No século 21, fica claro que estamos num mundo cada vez mais individualizado – a tecnologia substituiu os encontros e as sociedades industriais falham os laços de pertencimento coletivo. Nesse sentido, o Carnaval funciona como uma era de pertencimento. “Há música, dança, moda, culinária e, por isso, se torna um fato social completo”, reflete Luiz Antonio Simas, estudioso do tema.

Além disso, ele fomenta uma cadeia produtiva ligada à economia da cultura. Esse gerador de renda acontece o ano todo, tanto que as escolas de samba funcionam os doze meses. “Tudo o que o Carnaval não é, é uma festa de desocupados”, brinca Simas. De fato, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que este ano a data deverá movimentar R$ 8,18 bilhões em receitas, um resultado 26,9% acima do obtido no ano passado. 

O que faz a folia ser especial no Brasil é que as regiões do país são muito diferentes e, por conta disso, cada uma delas agrega um pouco de seus costumes e tradições. Enquanto Pernambuco tem o frevo, Salvador adiciona os afoxés e os trios elétricos. “Hoje, as coisas já mudaram muito e as festas são influenciadas pela cultura pop. E isso é importante porque as tradições só se mantêm porque se transformam mas, em algum sentido, sua essência permanece”, conclui Maria Cecília. 

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(Laís Brevilheri/Redação)

Pernambuco

Pernambuco tem uma tradição marcada pelo frevo. Essa manifestação musical se mistura com uma coreografia que se configura na virada do século XIX. A dança, inclusive, tem os passos cruzados que vem da ginga da capoeira. “Além disso, o local é marcado pelos grandes cortejos de maracatu – uma das grandes manifestações da cultura afro-pernambucana. A comemoração se concentra nas ruas, e não nas avenidas como ocorre em outros lugares”, descreve Simas. 

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(Laís Brevilheri/Redação)

São Paulo 

O estado é um caldeirão de influências. No começo, a tradição era bem diferente de hoje. Segundo o pesquisador, o lugar era sede dos cordões carnavalescos. A escola Vai Vai, localizada no bairro do Bixiga, era um deles. As rodas de tiririca, uma espécie de capoeira, que ocorria no Largo da Banana, também estão ligadas ao Carnaval paulista. “O estado tem um samba diferente do Rio, que a gente chama de samba de bumbo. Ele vem dos batuques de Pirapora do Bom Jesus”, afirma. A folia da classe média se concentra nos bloquinhos, que crescem exponencialmente a cada ano.

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(Laís Brevilheri/Redação)

Rio de Janeiro

Aqui, é possível dizer que há um carnaval duplo: o de rua e o de avenida. O primeiro se dá com os blocos de embalo que não competem nos desfiles oficiais. Enquanto o segundo é lugar das escolas de samba. “Esse é o maior conjunto de manifestações artísticas do mundo: há o bailado, a musicalidade, o coral, a coreografia, a cenografia e o processo dramatúrgico do enredo”, enumera o pesquisador. “Quem procura as tradicionais marchinhas também as encontra.”

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(Laís Brevilheri/Redação)

Bahia

A Bahia é marcada pela existência do candomblé. O movimento, a partir dos anos 1970, da tomada de consciência da africanidade baiana influencia diretamente a comemoração. “Uma das mais impactantes manifestações é o afoxé Filhos de Gandhy – um cortejo ligado ao terreiro. Fundado por estivadores portuários de Salvador em 1949, o desfile se caracteriza pela música com toque de santo”, relata Simas. Os trios elétricos também embalam a diversão. Eles nascem quando os músicos Dodô e Osmar eletrificam os instrumentos para se apresentar em cima de um Ford 1929. 

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(Laís Brevilheri/Redação)

Paraná

No sul do país, quem tem samba no pé também comemora. Curitiba, por exemplo, concentra festas para todos os gostos. Os blocos de rua passam pelos bairros da cidade semanas antes do feriado. E a cultura pop se mostra presente com a tradicional zombie walk, ou caminhada zumbi, em tradução livre. Na data, milhares de pessoas se fantasiam com sangue falso e saem às ruas para assustar uns aos outros. 

“Pouca gente sabe, mas um dos desfiles de escolas de samba mais fortes do Brasil é o de Uruguaiana. Vale a pena conhecer essa diversidade do nosso país”, diz Simas. 

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