Quando pensamos no Carnaval, logo vem à mente as fantasias divertidas, grandes carros alegóricos e as ruas cheias de gente. E após três anos com saudade da festa, 2023 marca a volta dessa comemoração tão icônica. Mas, apesar dela ser uma das marcas do Brasil, sua origem é estrangeira – e muito antiga. Ainda assim, cada uma das regiões do país incorporou sua essência, deixando a data com um brilho próprio.
Segundo a historiadora e professora PUC-PR, Maria Cecília Pilla, há uma discussão extensa acerca da origem do Carnaval. Por exemplo: Um estudioso espanhol chamado Julio Caro Baroja afirma que ela está ligada ao cristianismo e surgiu na Idade Média por conta da quaresma, período que antecede a Páscoa cristã. Mas, ao mesmo tempo, o pesquisador não nega suas origens pagãs.
Outros especialistas acreditam que o evento nasceu em Roma e, ainda, há quem diga que ele surgiu pela primeira vez no Oriente Médio. “O que não há dúvidas é que na Antiguidade havia rituais para marcar a passagem do tempo e a mudança de estações – e esta pode ser uma possível origem para a data”, analisa Maria Cecília.
No Brasil, o Carnaval chegou por meio dos colonizadores portugueses nos séculos XVI e XVII, manifestando-se inicialmente por meio do entrudo – uma espécie de folia popular entre escravos que acontecia nas ruas. “Os participantes jogavam ovos, bolas de água suja e pintavam os rostos. Os brancos e ricos, por sua vez, ficavam em casa e viam tudo pela janela”, explica a professora.
Com o tempo, a prática vai se transformando e as elites cariocas acabam tomando conta das ruas, excluindo as classes inferiores. A partir daí, as brincadeiras e a capoeira são proibidas e criminalizadas. É nessa época que surgem os carros alegóricos, os concursos e os corsos. Os primeiros bailes aparecem em casarões de pessoas importantes e o ritmo da dança era a polca e o maxixe.
A classe média passou a participar do feriado na forma de cordões e ranchos carnavalescos. Um deles foi o Rosa de Ouro, fundado pela maestrina Chiquinha Gonzaga. Foi dela que saiu a ideia das marchinhas com letras compostas especialmente para animar os foliões: “ó abre-alas que eu quero passar”, criada em 1899, é conhecida até hoje.
O primeiro samba só surge em 1916. A canção Pelo Telefone é de um cantor e compositor chamado Donga que, tinha apenas 26 anos na época. A canção foi concebida durante uma roda na casa de Tia Ciata, uma mãe de santo que emprestava seu lar para encontros populares.
“O que percebemos é que o Carnaval vai se popularizando com o tempo. Ainda assim, ele passou por algumas dificuldades. Durante o Estado Novo, Getúlio Vargas exige que as escolas tenham alvará”, diz Maria Cecília. “Porém, nos anos 1960, as escolas passaram a ter grandes investimentos de bicheiros. O que acontece até hoje em alguns lugares.”