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Livro “Clube do Orgasmo”: um guia divertido para o autoconhecimento

Escrito por Jüne Plã, do @jouissance.club, ele pode ser visto como uma introdução para a exploração do próprio corpo (com criatividade e consentimento)
por Paula Jacob, de CLAUDIA Atualizado em 14 set 2022, 22h53 - Publicado em
14.09.2022
10h12
clube do orgasmo
clube do orgasmo/Reprodução
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Febre nas redes sociais, o Clube do Orgasmo virou um hit nas mãos das parisienses descoladas em questão de semanas após o seu lançamento. Isso porque, se você ainda não conhece, o @jouissance.club é um perfil gigante no Instagram, onde a ilustradora Jüne Plã compartilha desenhos eróticos (e didáticos) para quem busca novas fontes de prazer na rotina sexual. Com quase um milhão de seguidores, ela celebra, agora, as traduções para diversos países – inclusive o Brasil. “A ideia do livro veio naturalmente. Tinha pouco mais de 200 mil seguidores quando a editora me procurou com a ideia, que topei na hora. Tinha essa vontade de publicá-lo porque não dá para falar tudo na internet, nem em termos técnicos (com o tamanho das legendas) e nem de conteúdo. O livro representava, para mim, essa sensação de liberdade”, conta a autora em entrevista à CLAUDIA.

Clube do Orgasmo
(jouissance.club/Reprodução)

Tudo começou lá em 2018, quando ela ainda era ilustradora de personagens para video games (sim!) – “amava, era incrível”. Durante uma conversa com um parceiro afetivo, ele questionou sobre uma região específica da vulva da qual ela não sabia muito bem a respeito. “Fiz uma pesquisa na internet e achei um site que descrevia cada partezinha em muitos detalhes e, mesmo lendo diversas vezes, precisei fazer um esforço mental para entender de fato onde ficava”, diz. Daí, aquela máxima de “se não entendeu, desenha” veio com tudo: “fui explicar para ele com uma ilustração de uma mão tocando o ponto. Achei o resultado genial e decidi criar o perfil”.

Apesar do sucesso imediato, com seguidores bastante acalorados com a didática, sabemos que produzir conteúdo sobre sexualidade nas redes é um terreno complicado. Enquanto hashtags que objetificam o corpo da mulher seguem sendo alimentadas, pessoas com trabalhos sérios têm suas contas desativadas por “não respeitarem as políticas” dos aplicativos. E Jüne não ficou fora dessa: sua conta saiu do ar três vezes, sendo que na última ela tinha passado dos 100 mil seguidores. “Foi muito triste ver meu trabalho sendo atingido dessa forma, fiquei preocupada. Consegui recuperá-la, mas, desde então, tenho tido mais cuidado porque sei que ela pode desaparecer há qualquer momento”, comenta. A reorganização de termos e palavras tem ajudado nas legendas. “É estressante!”

Contudo, Jüne diz que se diverte com o público engajado. “Eles são divertidos, curiosos e interessados. Tento ser acolhedora e presente nessa troca, porque a sexualidade é um assunto bastante delicado.” O que explica também o interesse pelo título em outros países. Aqui no Brasil, publicado pela Intrínseca, ele também tem circulado muito bem pelos perfis de literatura e sexualidade. Vale o adendo de que Clube do Orgasmo não é um livro de educação sexual, mas um guia para que você possa usar como base nas experiências sexuais que tiver (sozinha ou acompanhada). “Meu projeto não é algo que se resume à França. É universal porque todo mundo fala sobre prazer, tem interesse nisso. Fico feliz em chegar em outros e novos lugares para gerar esse diálogo que é tão necessário.” Mais detalhes da publicação a seguir:

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“Meu projeto não é algo que se resume à França. É universal porque todo mundo fala sobre prazer, tem interesse nisso. Fico feliz em chegar em outros e novos lugares para gerar esse diálogo que é tão necessário.”

É interessante no livro como você mostra as inúmeras formas de ter prazer numa relação sexual. Como foi esse processo de estudar a temática na prática?
Eu basicamente experienciei várias coisas. Depois que fiz aquele desenho inicial, fiquei com vontade de explorar cada vez mais as técnicas e as possibilidades do meu corpo, por isso tive que fazer comigo mesma – foi um trabalho dos sonhos (risos). Tive que estudar anatomia, claro, porque precisamos saber como aquilo opera biologicamente. Chamei uma especialista para me auxiliar com isso, e ela me ajuda bastante na primeira parte do livro. A segunda sou eu mesma e as minhas experiências.

Outra coisa legal de ler é a linguagem neutra, abraçando os diferentes gêneros. Isso sempre foi importante para você garantir?
No começo, não estava preocupada com essa problemática. Estava escrevendo enquanto uma mulher hétero e cisgênero, e aí não tinha essa inclusividade. Até que alguns seguidores me escreveram falando que não se sentiam representados ou não conseguiam se relacionar com o conteúdo por conta dessa escolha. Fiz pequenas conversas com eles, que me mostraram como a linguagem neutra era mais inclusiva – e lógica, claro, porque a sexualidade não se resume às pessoas cis. A partir disso, consegui criar esse texto com vocabulário neutro.

No começo do livro, você comenta sobre a falta de educação sexual e o quanto isso é prejudicial para as pessoas que fazem sexo, na juventude e na vida adulta. Você acredita que esse assunto deveria ser normalizado nas escolas e dentro de casa? Por quê?
Sim, definitivamente. Em casa, penso que as pessoas poderiam conversar mais abertamente sobre as coisas, sem entrar em muitos detalhes para não deixar ninguém constrangido ou desconfortável (depende da intimidade de cada um), mas também não pode ser um tabu. Eu converso com meu filho sobre sexualidade, falo o nome certo dos genitais, não quero esconder atrás de palavras “fofinhas” o nome dos getinais. Se você é capaz de falar que a mão é uma mão, você também deveria conseguir chamar um pênis de um pênis. É importante para mim usar as palavras certas porque você não cria um tabu maior ainda em cima disso.

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E as escolas, obviamente, deveriam ser um espaço para falar sobre sexualidade, com bases de conteúdo real: proteção, orientação sexual, consentimento. Poderia ser tão fácil, e algumas estão começando a fazer isso aqui, mas são poucas. Também não pode ser uma hora de aula por ano (risos), é tão fácil encontrar pornografia mainstream na internet, e não quero que os jovens sejam influenciados por isso. Eu fui, por exemplo, e a minha vida sexual foi muito caótica até eu ficar mais velha e entender que poderia dizer não, que não precisava me depilar, que não precisava gritar e nem aceitar tudo. Então, sim, as escolas definitivamente deveriam ser mais abertas para a temática.

Acho que uma das coisas que afasta bastante as pessoas desse contato para além da penetração é a pornografia. Você concorda? Qual seu ponto de vista sobre o consumo de vídeos pornô?
Não só a pornografia, mas o cinema dá a mesma mensagem: para ser normal, você precisa ser hétero; para ter prazer, precisa de penetração; isso e aquilo. E isso é a única referência imagética que temos. O que é uma pena, porque o sexo não é só a visão do homem. Por isso não diria que a pornografia não é a única culpada, temos diversos filmes e livros escritos por homens que colocam a história da perspectiva deles, não inclui a tamanha diversidade que a sexualidade tem.

Dito isso, acho que as pessoas, se quiserem ver pornografia, que busquem os sites éticos. Eles não são gratuitos, mas são ótimos para ver que as pessoas se beijam, transam com sentimentos, podem ter pausas, que o sexo pode ser lento e gostoso… São tantas coisas para ver, e foi isso que queria com o livro. Veja, é simples, não precisa ser um gênio para entender esses movimentos. Seja criativo. Pense na hora de preparar uma refeição: é fácil na cozinha, porque tem informações na internet, vídeos, textos. E se você não tem um ingrediente, você cria, inventa, experimenta. É isso que falta no sexo. Você não precisa seguir tudo à risca, eu queria que o livro fosse essa base de referências.

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