
as últimas duas semanas, a cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, recebeu a primeira edição do Campão Cultural. O festival é o primeiro na capital a juntar música, dança, teatro, arte e até uma feira dos saberes voltada para propagar o conhecimento ancestral. O evento foi um marco artístico que movimentou mais de 10 bairros campo-grandenses, além dos distritos de Anhanduí e Rochedinho. Ao todo, participaram 150 atrações regionais e nacionais, como a cantora Duda Beat, a grafiteira RafaMon e os escritores indígenas Casé Angatu e Auritha Tabajara.
Segundo Soraia Ferreira, uma das responsáveis pela organização, a ideia inicial era que tudo acontecesse de forma online. Porém, a taxa de 65,74% de adultos e jovens com o esquema vacinal completo tornou a retomada do presencial uma possibilidade viável. “Queríamos ocupar a cidade porque nunca tivemos algo dessa natureza por aqui. Dividimos Campo Grande em sete regiões e levamos cultura para todas delas”, conta. “Criamos algo para que pessoas de todas as idades pudessem aproveitar, desde crianças até adultos. Programar ações nas periferias também foi algo muito especial para nós.”
Os primeiros sete dias do Campão tiveram foco na gastronomia com aulas sobre a cozinha local; no patrimônio, com oficinas de identidade cultural e no teatro, com apresentações de grupos locais. Na última semana, a música e a arte urbana tomaram o centro das atenções. O grupo sul-mato-grossense Vozmecê foi o protagonista do dia 1º de dezembro, quarta-feira. A mistura do forró, baião e MPB deu o tom para músicas cheias de críticas sociais. A “Tio Sam”, por exemplo, fala sobre o poder dos Estados Unidos de propagar o ódio pelas nações e dominar a economia global.
“Criamos algo para que pessoas de todas as idades pudessem aproveitar, desde crianças até adultos. Programar ações nas periferias também foi algo muito especial para nós”
Soraia Ferreira, organizadora do Campão Cultural

Já o rapper mineiro Djonga cantou na quinta-feira e a organização estima que 8 mil espectadores o acompanharam – foi um dos shows mais esperados de todo o line-up. No sábado, Duda Beat ganhou os corações da plateia com canções que estimulam a superação de amores que não deram certo. Tudo ficou mais divertido quando a rainha da sofrência pop chamou o fã Vitor Rizo para cantar junto a música “Nem um pouquinho” em uma performance encantadora.

No domingo, último dia de apresentações, foi a vez de Dexter assumir os holofotes. O show começou com a canção “Voz Ativa”, que tem na composição a luta contra a desigualdade racial. No telão de fundo, a imagem de Angela Davis relembra que quando a cultura preta se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela. Todos esses shows foram os primeiros dos artistas após quase dois anos sem colocar o pé na estrada. A volta emocionou tanto os artistas, que comentaram a saudade de trabalhar, quanto o público, que pôde finalmente sair de casa e celebrar a vida. “Estou com muita saudade de cantar, nem sabia mais como era estar aqui em cima”, diz Duda.