Após 20 anos de existência ao redor do globo, o Primavera Sound finalmente desembarca em São Paulo. O festival, que visa destacar nomes consagrados e novos da música, chega por aqui com um line-up marcado por uma mistura de sons e tendências, como indie, funk, rap e dance music.
Marcado para os dias 5 e 6 de novembro no Distrito Anhembi, o evento conta com 5 palcos diferentes. São eles: Palco Beck’s, Palco Primavera, Palco Elo, BITS e Auditório Barcelona. A estrutura, por sua vez, foi pensada para garantir a acessibilidade para as Pessoas com Deficiência (PCD) e proporcioná-las uma experiência única por meio de rampas de acesso, intérprete de libras, audiodescrição e espaço VIP.
Além disso, a escolha de nomes femininos chama atenção: são 54 mulheres se apresentarão, reforçando a equidade de gênero na grade da programação. Pensando nisso, listamos oito participantes que você não pode deixar de ouvir para se preparar para a festa. Confira:
Tasha & Tracie
Ver essa foto no Instagram
As gêmeas Tasha e Tracie são, sem dúvida, a dupla revelação deste ano. Jovens de 26 anos com origem da Zona Norte de São Paulo, de Trindade e do Jardim Peri, as artistas começaram a carreira como blogueiras e ativistas. Atualmente, são DJ’s, MC’s, estilistas, produtoras culturais e diretoras de arte. Com foco na música, elas unem o rap com o funk em suas faixas e abordam diversos temas ligados à cultura negra, vivência periférica e ostentação.
A mistura do rap com o funk, características do brime, marca o estilo das artistas que trazem influência do dancehall, drill, trap, gangsta rap e grime. Além do rolê pela noite na quebrada trazidos pelos elementos afetivos, Tasha e Tracie cantam sobre o foco em seu trabalho, se posicionam como mulheres que sabem o que quer e rimam abertamente sobre sexo e prazer. “Cantamos para que as minas se priorizem, principalmente as mais novinhas”, diz Tracie, em entrevista à Elástica. “Esse negócio de ser agressivo é para tomar o bagulho para gente. Porque os caras nos colocam em uma situação de sexualização que a gente fala tá bom, somos cadela, então vamos sexualizar mesmo, a ponto de ser tão agressivo que eles ficam com medo”, completa.
Jup do Bairro
Ver essa foto no Instagram
Jup começou sua trajetória na arte ainda na adolescência, época em que sentimos a necessidade de pertencimento e da busca pelo nosso lugar no mundo. “Era uma espécie de terapia barata. Escrevia para me ouvir e, com isso, fui entendendo que corpo era mente e que, a partir dali, poderia me sentir pertencente a algo”, revela. O sonho cresceu e, ao se juntar com a artista Linn da Quebrada, nasceu o disco Pajubá, que rendeu sua primeira saída do país e o filme “Bixa Travesty”.
Mas só em 2020 é que nasce seu primeiro álbum solo, Corpo Sem Juízo, que além de contar sua vivência como mulher trans da periferia, questiona o lugar de corpos dissidentes na sociedade. “Um exercício que tenho feito com meu público é trazer a importância da construção de pensamento conjunto. Não trago verdades absolutas, mas pensamentos que precisam ser construídos”, diz. “Se a gente falar a fundo sobre representatividade, não represento ninguém além de mim mesma. Não falo por todas as travestis, nem por todos os corpos pretos. Isso também é uma forma de o capitalismo desumanizar a gente.”
Josyara
Ver essa foto no Instagram
A cantora, compositora e instrumentista baiana Josyara acabou de lançar seu novo disco, ÀdeusdarÁ. Com a voz firme e suave, ela canta acompanhada de seu violão percussivo e letras que falam de amor, religião e ancestralidade. “O meu segundo disco é um recorte das questões que temos enfrentado, como a desigualdade social, o racismo e a intolerância religiosa”, diz. “Comecei as composições em 2020, durante a pandemia, então há músicas que também falam de esperança, da luz no fim do túnel.”
A necessidade de colocar para fora suas inquietudes e dizer o que ama é o que a instiga a criar. E ela está sendo ouvida: já levou os troféus de Melhor Instrumentista e o Escuta As Minas, categoria que revela novos talentos do WME Awards. “O candomblé e a umbanda, religiões de matriz africana, são temas que eu canto porque cresci em Salvador e nossa música parte dos terreiros. Canto para agradecer todas essas forças invisíveis que nos regem”, revela.
Phoebe Bridgers
Ver essa foto no InstagramContinua após a publicidade
A cantora, compositora, guitarrista e produtora estadunidense estreou no mundo da música em 2017, com o primeiro álbum de estúdio, Stranger in the Alps. Mais tarde, em 2020, ela lançou Punisher, que lhe rendeu reconhecimento da crítica e do público, além de quatro indicações ao Grammy.
Suas letras sentimentais e sua voz melancólica dão o tom para temas do cotidiano, como vulnerabilidade, incertezas da vida adulta e relacionamentos. Para além dos palcos, a cantora também é ativa ao defender os direitos das mulheres e da democracia. Neste ano, em meio a revogação do direito ao aborto pela Suprema Corte dos Estados Unidos, ela revelou em suas redes que realizou a interrupção de uma gestação durante sua turnê em outubro de 2021 e que “todo mundo merece esse mesmo acesso”.
Jessie Ware
Ver essa foto no Instagram
Se sua vontade é viver a era de ouro das pistas de dança, Jessie Ware é a escolha certa para a sua playlist. Seu último álbum, What’s your pleasure?, lançado em 2020, nos remete às roupas coloridas, maquiagens brilhosas e coreografias divertidas dos anos 80. O disco conquistou públicos ao redor do mundo todo e rendeu a primeira indicação de Jessie a categoria álbum do ano no Brit Awards.
Em agosto deste ano, a artista soltou um novo single, “Free Yourself”, que marca uma nova era e fala sobre a força de assumir quem você é. O clipe, por sua vez, dá mais potência à letra ao mostrar Jessie e seus dançarinos se despindo – deixando o lugar mais criativo e cheio de cor.
Céu
Ver essa foto no Instagram
A cantora teve sua estreia em 2005 com o disco homônimo Céu, que lhe rendeu reconhecimento nacional e internacional – foi uma das primeiras brasileiras a ser indicada ao Grammy Awards. Em 2016, lançou o álbum mais aclamado de sua carreira, “Tropix”, que a consolidou como uma das artistas mais importantes da atualidade.
Seu último álbum, Um gosto de sol, tem releituras de ídolos musicais que vão do bossa-novista João Gilberto à sedimentadora do pop sofisticado oitentista Sade. Para render um resultado diferente e impecável, ela juntou um time improvável de músicos: o guitarrista Andreas Kisser, do Sepultura, responsável pelo violão de sete cordas de todas as faixas, o baixista Lucas Martins e o baterista e parceiro musical e de vida Pupillo, também produtor do álbum. Colaboraram também Emicida, Russo Passapusso, do BaianaSystem, e DJ Nyack.
Acostumada a viver fora da zona de conforto, Céu encontrou na música o seu refúgio para lidar com a pandemia, o governo Bolsonaro e a sensação de luto eterno causada pela covid-19. “Eu demorei alguns discos autorais para contar quem eu era como compositora, do rolê que eu tenho, sou paulistana e multicultural, da cidade que tem essa pluralidade”, diz em entrevista à Elástica.
Japanese Breakfast
Ver essa foto no Instagram
Japanese Breakfast é uma banda pop alternativa liderada por Michelle Zauner, artista que une a cultura norte-americana e coreana. O projeto, que tem um som marcado por guitarras distorcidas e lo-fi, começou em 2013 e o primeiro álbum de estúdio, nomeado Psychopomp, foi lançado em 2016.
Mas foi em 2014 que a artista viveu uma reviravolta na vida: sua mãe faleceu de um câncer e ela passou por um longo processo de luto – que refletiu em todo seu processo criativo. Para além da música, Zauner se dedicou à culinária e escreveu um livro, Aos Prantos no Mercado, que chegará às prateleiras do Brasil pela editora Fósforo no dia 17 de novembro. Na narrativa, a protagonista atravessa o luto pela morte precoce da mãe e libera o choro represado ao percorrer as prateleiras do mercado coreano H Mart, em Nova York. A edição em português tem tradução de Ana Ban e ilustração da capa de Ing Lee.
MC Dricka
Ver essa foto no Instagram
Mc Dricka, considerada um dos nomes em ascensão do funk nacional, começou a cantar com apenas 12 anos no coral da igreja. E apesar de crer em Deus, hoje se afastou da religião – mas acredita que a instituição abre portas para quem não tem como bancar o aprendizado de novos instrumentos. “Não é tão fácil achar uma escola de canto com um preço acessível ou gratuita. E a igreja é um lugar onde as pessoas da periferia conseguem aprender de uma forma boa e sem pagar. Foi lá que eu tive a noção do que é cantar”, diz à Elástica. “O começo foi muito proveitoso porque aprendi muito, descobri coisas novas e trabalhei demais para chegar até aqui.”
A cantora quebra barreiras com letras sobre empoderamento feminino, mas com uma linguagem que se assemelha a de MCs homens. “Ainda tem quem fale que o funk objetifica a mulher, mas meu funk fala sobre o que as mulheres gostam e querem para si. Todas as minhas músicas falam que quem sai apaixonado, na verdade, é o cara – porque as mulheres são muito poderosas”, comenta.
No ano passado, seu nome ficou conhecido ao redor do mundo: estampou o telão da Times Square, em Nova Iorque, e participou do projeto Colors, canal que reúne sons de grandes nomes da música internacional. E isso mostra que a cultura brasileira é múltipla e que o gênero tende a crescer ainda mais. “O principal desafio é ser aceita, porque o Brasil tem essa mania de gostar muito do que é de fora e valorizar pouco quem faz o corre de dentro. Mas vão ter que me aceitar”, conclui.
Ver essa foto no Instagram