Carlo Petrini luta há quatro décadas por segurança alimentar a nível mundial. Suas conversas com o Papa Francisco tornaram-se livro. Nós entrevistamos ele
por Artur TavaresAtualizado em 19 Maio 2022, 19h40 - Publicado em
12 Maio 2022
00h24
Em se plantando tudo dá”. Foi assim que o desbravador português Pero Vaz de Caminha descreveu o Brasil ao rei de Portugal quando aqui desembarcou, no ano de 1500. Sua primeira carta ao lorde europeu foi suficiente para que, mais de cinco séculos depois, a gente ainda acredite que nosso país é uma terra abençoada, cujos recursos naturais são suas maiores riquezas.
É verdade que o Brasil tem uma longa história ligada ao campo. Já fomos os maiores exportadores de açúcar e café do mundo. Somos, até hoje, um dos maiores produtores de grãos – principalmente soja –, frutas e carnes. O agro tornou-se pop, e mesmo assim temos hoje cerca de 19,1 milhões de brasileiros em situação de fome. Ainda de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pessan), mais de 116 milhões de pessoas por aqui vivem com algum tipo de insegurança alimentar – e isso representa 54% da população.
A esse cenário completamente contraditório, soma-se o fato de que o Brasil é, desde 2008, o país que mais usa agrotóxicos no mundo. O glifosato, um herbicida que representa 62% de todos os venenos jogados em nossas lavouras, mata cerca de 500 crianças por ano. Em sua maioria, os agrotóxicos são proibidos na Europa, mas o Brasil é o segundo maior comprador de produtos banidos em territórios desenvolvidos.
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Durante a pandemia, enquanto o governo aproveitou as atenções da mídia com a covid-19, passou-se a boiada de fato, como quis o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. Apenas em 2020, a Anvisa aprovou 118 novos agrotóxicos para uso em território nacional. O número é muito maior se formos computar o início do governo de Jair Bolsonaro, em 2018: foram 1.629 produtos no total.
O show de horrores fica ainda pior se colocarmos nessa lista da morte os esforços do governo em intensificar a mineração em territórios de floresta, ou então a notícia de que quase 800 municípios brasileiros têm sua água contaminada por algum tipo de radiação – causada, é claro, pelo uso extensivo de agrotóxicos, mas tudo isso fica para um outro dia.
Um dos maiores ativistas da justiça alimentar e ambiental no mundo, o italiano Carlo Petrini fundou nos anos 1980 a rede Slow Food, uma organização que atua em países desenvolvidos e em desenvolvimento para recuperar valores ancestrais da relação entre o homem e a natureza. Através de grupos autônomos chamados Terra Madre, que atuam em mais de 150 países do mundo, eles fomentam a agricultura familiar, a defesa de biomas e a recuperação de tradições alimentares na tentativa de evitar a profusão da monocultura, das plantations, do trabalho análogo à escravidão e do desaparecimento de alimentos endêmicos, que geralmente são substituídos por commodities – como é o caso da floresta brasileira, destruída para que haja plantio extensivo de soja.
Hoje, um dos maiores aliados de Petrini é ninguém menos que o Papa Francisco. Em 2015, o pontífice argentino publicou a encíclica Laudato si’, talvez o documento mais progressista divulgado pela Igreja Católica neste século 21. No texto, Jorge Mario Bergoglio propõe uma maior comunhão entre o homem e o meio ambiente como única forma de evitar um fim do mundo ao mesmo tempo que tal relação nos colocaria em maior harmonia com a vida.
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Em determinado momento, o Papa Francisco escreve: “Quando falamos de ‘meio ambiente’, estamos nos referindo também a uma relação particular: aquela entre a natureza e a sociedade que a habita. Isso nos impede de considerar a natureza como qualquer coisa separada de nós ou como uma mera moldura para as nossas vidas. Estamos incluídos nela, somos parte dela e nos intercambiamos… Não são duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma só e complexa crise socioambiental.”
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As declarações do Papa Francisco em Laudato si’ assemelham-se muito às lutas de boa parte dos povos originários ao redor do mundo, e aqui mais uma vez é difícil não se lembrar dos indígenas brasileiros. Embora a história entre a Igreja e os povos originários não seja das melhores desde a época das navegações, hoje a alta cúpula do Vaticano trabalha em prol dessas minorias – e não como colonizadora, mas como linha auxiliar em territórios fragilizados, principalmente em parceria com a rede Terra Madre.
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Foi Laudato si’ que aproximou Petrini do Papa, ainda em 2015. Desde então, eles se reuniram para alguns encontros e simpósios ao redor do mundo. Seus diálogos acabam de ser lançados em livro no Brasil pela Editora Senac. A publicação, cujo nome é “Terrafutura – Diálogos com o Papa Francisco sobre a ecologia integral” fala não apenas de agricultura, mas de capitalismo pós-industrial, da expansão da tecnologia e de migrações causadas por desastres ambientais e guerras – um tema bastante em evidência hoje, com o atual conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Nós tivemos a honra de conversar com Carlo Petrini.
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Para começar nossa conversa, gostaria que o senhor explicasse em linhas gerais do que se trata o Slow Food e a rede Terra Madre.
Slow Food é uma associação sem fins lucrativos, nascida na Itália na década de 1980 e ativa internacionalmente desde o final da mesma década. Inspirado por seu slogan “alimento bom, limpo e justo para todos”, o Slow Food está comprometido em restaurar o valor correto da nutrição; respeitando o trabalho dos produtores, promovendo a biodiversidade dos ecossistemas e reconhecendo o valor de que os territórios e tradições locais são guardiões. Terra Madre é a rede de comunidades do alimento do Slow Food (agricultores, pescadores, artesãos, indígenas, professores, cozinheiros, etc.), presente em mais de 150 países ao redor do mundo. Todos os dias esta rede – em diferentes níveis e de diferentes formas – está empenhada em difundir os valores do movimento, com a convicção de que através da alimentação podemos promover uma mudança de paradigma do sistema econômico e social em que vivemos.
Terrafutura toca em temas ao mesmo tempo muito ancestrais e absolutamente contemporâneos, da integração do homem, da natureza e da espiritualidade em prol de um planeta melhor. Ao longo da história, como o pensamento humano foi se afastando dessas questões “primitivas” em busca de uma suposta “evolução”, levando-nos ao caos iminente que enfrentamos hoje?
Gostaria de limitar a resposta ao setor alimentar. O advento da agricultura industrializada, que levou a uma progressiva mecanização do trabalho agrícola, ao aumento do tamanho mínimo das propriedades e ao uso da monocultura intensiva, afastou progressivamente dos locais de produção de alimentos, daqueles de consumo. Ao mesmo tempo, em todo o mundo temos assistido a um crescimento cada vez mais acentuado da urbanização. A conjugação destes dois fenômenos – tidos como um grande avanço na sociedade moderna – fez com que cada vez menos pessoas se dedicassem ao trabalho da terra, pois os alimentos eram facilmente disponíveis através dos vários canais de distribuição organizados (mercados, supermercados etc.). A mudança nos estilos de vida e no consumo, porém, fez com que pouco a pouco se rompesse o vínculo homem-natureza, do qual a agricultura sempre foi o elemento mais tangível, e que a alimentação fosse desprovida de todos os seus complexos valores sociais, culturais e espirituais; por outro lado, considerando-a como qualquer outra mercadoria que cumpra a lei do menor preço. Uma suposta “evolução”, portanto, que certamente trouxe consigo alguns benefícios, mas também causou muitos dos problemas que atualmente são atribuíveis ao sistema alimentar (emissões de gases de efeito estufa, desertificação, perda de biodiversidade etc.)
“A mudança nos estilos de vida e no consumo, porém, fez com que pouco a pouco se rompesse o vínculo homem-natureza, do qual a agricultura sempre foi o elemento mais tangível, e que a alimentação fosse desprovida de todos os seus complexos valores sociais, culturais e espirituais”
O período colonial europeu e o Iluminismo ajudaram a dar origem ao Antropoceno. A filosofia propagada pela Igreja Católica, e pelos cristãos em geral, de que a Terra foi dada ao homem para que ele faça o que quiser com ela, ajudou a acelerar a catástrofe socioambiental que vivemos?
Nos períodos históricos enunciados na pergunta, a Terra era muito menos populosa, e os humanos também não tinham hoje o conhecimento disponível sobre as implicações danosas para nós e para o meio ambiente de nossas ações. Mas agora a insustentabilidade de nossos estilos de vida é uma verdade irrefutável; devemos reconhecer a urgência da crise climática e mudar nosso comportamento promovendo uma relação virtuosa com o meio ambiente. Ao fazer isso, gostaria de aconselhá-lo a valorizar as palavras contidas na Laudato Si’ do Papa Francisco. De fato, o texto mostra a necessidade de reconhecer que o meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio e ao mesmo tempo responsabilidade de toda a humanidade. E que quem possui uma parte dela deve apenas administrá-la em benefício de todos.
O Papa Francisco, com quem o senhor dialoga de maneira belíssima, é uma das santidades mais progressistas da Igreja Católica em toda sua história. Na sua opinião, a Igreja demorou demais para tocar nesses temas socioambientais, que já são debatidos nos campos científicos há pelo menos meio século?
Se por um lado a Igreja se atrasou nas questões ambientais, por outro na verdade levou o discurso a um patamar superior ao que tem sido feito até aquele momento pelos movimentos ambientalistas; especialmente os ocidentais. A encíclica Laudato Si’ é de fato um texto de vanguarda com um extraordinário significado político e social. Quem a reduz a uma encíclica verde é, na verdade, míope diante de sua sugestão mais importante: a ecologia integral. Uma expressão que delineia uma conexão íntima e inseparável entre o bem-estar do planeta e as espécies vivas (incluindo os seres humanos), a justiça social e até a estabilidade dos sistemas econômicos. Não há justiça social sem justiça ambiental; este é um conceito disruptivo e original também para o mundo ambientalista.
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O senhor fala da criação de um Homo comunitarius, consciente da sociedade e do ambiente ao seu redor, e de como a tomada de pequenas atitudes, como apagar a luz e economizar a água, podem impulsionar mudanças. No entanto, sabemos que tais pequenas atitudes não são suficientes para controlar o descarte de plástico, a poluição de rios pela indústria têxtil, ou a desertificação causada pelo desmatamento, apenas para dar alguns exemplos. Assim, quando o senhor fala de pequenas atitudes, entendo que se trate das possibilidades educativas que elas trazem. Como fazer com que os grandes senhores da terra e do capital aprendam com essas atitudes a fim de mudar seus próprios negócios?
Acho que antes de nos tornarmos promotores de qualquer mudança na sociedade, devemos antes de tudo nos reconstruir, redefinir nossas categorias de pensamento para nos re-sintonizarmos em uma onda de emancipação e bem-estar para toda a comunidade humana. Vivemos em um mundo onde o progresso assim perseguido está devastando nossa casa comum e nossos relacionamentos. Isso nos deixa nervosos e com medo, nos empurra para a suspeita; e tal empresa não tem futuro. Uma vez que consertamos o vínculo com o nosso eu interior e nos conscientizamos de que não estamos desconectados do ambiente ao nosso redor, acho que podemos ajudar a direcionar as decisões dos grandes da Terra com nossos comportamentos diários. Os jovens entenderam isso muito bem e já estão colocando em prática pedindo a nós adultos que façamos o mesmo.
O planeta vive em constante insegurança alimentar, embora saibamos que a quantidade de alimentos produzidos anualmente daria conta de alimentar todo o planeta se eles fossem distribuídos de maneira justa. Há ainda a solução banal da monocultura de trigo, soja e outros alimentos em detrimento do cultivo de alimentos endêmicos de cada bioma planetário. Como superar a dicotomia entre segurança alimentar e globalização alimentar, em um sentido que essa globalização trata de uma homogeneização dos alimentos em todo o mundo?
Precisamos desenvolver um novo modelo de sistema alimentar global que coloque a soberania alimentar de todos os povos no centro e restaure a dignidade da economia local. Com isso não quero promover a autarquia; de fato, hoje em dia é difícil que um país sozinho consiga atender às necessidades alimentares de toda a população com total autonomia. No entanto, o que precisa ser feito é promover um desenvolvimento harmonioso dos recursos (internos e externos), para fortalecer também a existência de uma economia local. Não podemos pensar que toda a economia é uma economia globalizada, devemos ter a vontade de fortalecer o contexto local, porque é precisamente aí que se demonstra a participação de todos os cidadãos mas também a defesa dos solos, da paisagem, da nossa memória histórica … e da tradição gastronômica. Essa é uma necessidade ainda mais premente à luz dos choques que caracterizaram a cadeia agroalimentar global durante a pandemia.
“Acho que antes de nos tornarmos promotores de qualquer mudança na sociedade, devemos antes de tudo nos reconstruir, redefinir nossas categorias de pensamento para nos re-sintonizarmos em uma onda de emancipação e bem-estar para toda a comunidade humana. Vivemos em um mundo onde o progresso assim perseguido está devastando nossa casa comum e nossos relacionamentos. Isso nos deixa nervosos e com medo, nos empurra para fechar e à suspeita; e tal empresa não tem futuro”
Ao tratar de economia, o senhor fala do caso da fábrica da Apple na Ásia, e pensar em empresas de tecnologia me traz um questionamento que parece essencial nesse – século 21: como conciliar o desenvolvimento sustentável com o desenvolvimento tecnológico que exige a extração de minérios raríssimos do solo? Existem maneiras verdadeiras de termos desenvolvimento 100% verde no mundo hoje em dia, ou qualquer promessa feita em convenções climáticas internacionais são paliativas, ou apenas de fachada?
Acredito que a tecnologia deve deixar de ser vista como a única solução possível para todos os nossos problemas, ou o único caminho para o sucesso no futuro. A tecnologia é necessária, isso é indubitável, mas muitas vezes corre-se o risco de ser percebida como um fim em si mesmo, quando na realidade deve ser uma ferramenta de ajuda para a busca do bem comum. Um bem comum que, como tal, não pode causar danos nem às pessoas nem ao meio ambiente, como ocorre no setor de mineração. Por exemplo, vem à mente a extração de lítio para a produção das baterias de nossos dispositivos digitais na área de Atacama, no Chile, uma atividade que corre o risco de alterar irreversivelmente o equilíbrio de um ecossistema desértico já frágil em si mesmo, mas que, no entanto, continua; justificando-o como necessário para garantir o progresso tecnológico. Precisamos tomar decisões corajosas e nos libertar do consumo compulsivo que identifica a felicidade com a compra e posse de bens de última geração. Se pudermos fazer isso, acho que podemos realmente começar a falar sobre desenvolvimento ecologicamente sustentável.
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Aqui no Brasil, nunca conseguimos fazer verdadeiramente uma reforma agrária que permitiria a agricultura familiar, de cooperativas, e de povos tradicionais prosperar verdadeiramente. Pelo contrário, vemos ativistas e ambientalistas sendo assassinados, e os latifundiários sendo beneficiados pelos governantes. O senhor se denomina um ex-comunista. Acredita que é possível superar esse momento de atraso brasileiro sem que haja algum tipo de revolução completa no sistema socioeconômico do país?
Qualquer mudança estrutural no sistema econômico de um país e no pensamento político dos governantes passa primeiro por uma revolução social e cultural na mente do povo. E o atraso será superado quando houver vontade de todos, sem exceção, de fazê-lo; fazendo uma frente comum na direção certa. E hoje o caminho a seguir só pode ser o da transição ecológica; isto é, de uma nova era na história da humanidade que coloca a justiça ambiental e a justiça social no centro da promoção do bem-estar universal.
No capítulo “Querida Amazônia”, o Papa assume a possibilidade de integração da fé e das doutrinas dos povos originários à filosofia católica, uma postura radicalmente distante da filosofia do Deus único que passa por Jesus. Embora a Igreja Católica perca anualmente cada vez mais fiéis para doutrinas cristãs protestantes – que já são maioria aqui no Brasil, por exemplo -, qual a importância dessa mudança de paradigmas no imaginário popular do cidadão comum que é temente a Deus, mas que não segue uma ou outra teologia especificamente?
Querida Amazônia é uma síntese maravilhosa de um encontro extraordinário no qual tive a inesperada honra de participar. Estou falando do Sínodo Pan-Amazônico; assembleia dos bispos da região Pan-Amazônica que também envolveu muitos representantes dos povos indígenas que habitam aquela região do mundo. Houve muita discussão sobre um conceito de espiritualidade em alguns aspectos arcaico, que deveria, no entanto, ser assumido por todos, independentemente de credo ou religião. Uma espiritualidade que nos permita recuperar a consciência de nós mesmos, cultivar sem desenraizar, crescer sem enfraquecer a identidade e promover sem invadir. Uma espécie de novo humanismo que nos permite viver em harmonia com nós mesmos e com o meio ambiente; assim como os povos indígenas da Amazônia nunca deixaram de fazer.
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Ainda falando nisso, a Igreja Católica, embora esteja centralizada no Vaticano, não é uma instituição de doutrina única. Vocês falam no livro, por exemplo, da Teologia da Libertação e da Teologia da Prosperidade, que são diametralmente opostas. O senhor acredita que as mensagens de Francisco reverberam e estão sendo aceitas pela parcela mais conservadora da Igreja, ou que pelo menos serão aceitas a tempo de salvarmos a vida humana no planeta?
A filosofia mais profunda do pensamento de Francisco é fortemente influenciada por suas origens e pelo contexto sociocultural que traçou o desenvolvimento do continente latino-americano. A opção preferencial pelos pobres, a atenção às questões ambientais surge, portanto, nessa parte específica do mundo. Na realidade, porém, trata-se de princípios de fraternidade universal que devem unir todos os homens, e diante dos quais nem mesmo a parte mais conservadora da Igreja poderá permanecer indiferente por muito tempo. Deve-se dizer também que, nos quase dez anos de seu pontificado, Francisco conseguiu reunir ao seu redor muitos rostos novos da Igreja semelhantes a ele; pessoas que o ajudam a ampliar e difundir seus pensamentos.
“A filosofia mais profunda do pensamento de Francisco é fortemente influenciada por suas origens e pelo contexto sociocultural que traçou o desenvolvimento do continente latino-americano. A opção preferencial pelos pobres, a atenção às questões ambientais surge, portanto, nessa parte específica do mundo. Na realidade, porém, trata-se de princípios de fraternidade universal que devem unir todos os homens, e diante dos quais nem mesmo a parte mais conservadora da Igreja poderá permanecer indiferente por muito tempo”
Para terminar, gostaria que o senhor nos contasse algumas boas iniciativas promovidas pelo Slow Food e pela Terra Madre aqui no Brasil, para que nossos leitores possam se inteirar mais do assunto, talvez até se envolverem na causa.
O Slow Food está presente no Brasil, amplamente nas 5 regiões, há mais de 20 anos. Hoje conta com uma ativa rede de Comunidades Slow Food comprometidas com a defesa da biodiversidade e cultura alimentar brasileira, promovendo a educação alimentar e o impacto político. É uma rede bastante heterogênea, presente no meio rural e nas metrópoles, incluindo agricultores familiares, camponeses, povos indígenas e comunidades tradicionais, cozinheiros, educadores, pesquisadores e comunicadores. Nos últimos anos, acompanhando a crise política e o desmonte das políticas públicas, a rede tem focado seus esforços principalmente na reivindicação de direitos, participando de campanhas de mobilização coletiva pela defesa da segurança alimentar e nutricional (Segurança Alimentar e Nutricional), adequada e saudável nutrição (Alimentação Adequada e Saudável) e o combate à aprovação de novos agrotóxicos (campanha Chega de Agrotóxicos).