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Fármaco-recreação cresce entre a geração Z

Mais de 40% dos jovens entre 17 a 24 anos conhecem alguém que toma remédios para hackear o próprio corpo e atingir o prazer. Entenda o fenômeno
por Alexandre Makhlouf Atualizado em 8 dez 2022, 16h21 - Publicado em
7.12.2022
12h41
Pílulas com carinhas felizes desenhadas para ilustrar reportagem
little plant/Unsplash
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Se o boom das drogas ilícitas afetou as gerações X e Y, com festas regadas a cocaína, ecstasy, MDMA e outros entorpecentes, parece que as drogas preferidas dos jovens atuais são aquelas que você não precisa chamar o dealer para conseguir – basta ir à farmácia mais próxima.

Sim, o veneno preferido da geração Z são os fármacos. Batizado de fármaco-recreação, o comportamento reforça a vontade dessa juventude de colocar a vida em teste e experimentar tudo. É o que mostra a pesquisa “Geração Z pelas lentes latinas”, realizada pelo Grupo Consumoteca, empresa de pesquisa e inovação, com 2 mil jovens entre 17 e 24 anos da Argentina, Colômbia, Brasil e México.

De acordo com o estudo, cerca de 17% desse público assume tomar medicamentos para uso recreativo. O número sobe para  22% quando a faixa etária aumenta para 16 e 17 anos. Se a pergunta for “quantas pessoas você conhecem que tomam remédios para uso recreativo?”, mais um aumento: 43% responderam sim na faixa etária entre 17 e 24 anos, percentual que aumenta para 48% entre aqueles que têm 16 e 17 anos.

“A lógica do remédio é de hackear os efeitos colaterais, entender o que essa substância causa no meu corpo e como manuseio para alcançar as sensações que me interessam. É menos sobre ‘beber e ficar louco’ e mais sobre que ‘substância posso ingerir para ficar mais enérgico, sonolento ou produtivo’?”, explica Marina Roale, head de insights do Grupo Consumoteca.

Tchau, ressaca

Entre as razões para o aumento do uso de medicamentos na geração Z não está apenas a vontade de hackear o próprio corpo e aumentar as próprias capacidades, mas também a repulsa cada vez maior em sentir a prostração que vem junto com a ressaca e a rebordose.

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A vontade de experimentar algo que os afaste da realidade e cause novas sensações, claro, existe e é tentadora. Mas não compensa o suficiente para perder um dia de trabalho ou outro dia de rolê ao ficar derrubado no sofá no dia seguinte. Os dados comprovam: no Brasil,  37% dos jovens declararam ter comprado bebida alcoólica nos últimos três meses, contra 53% que afirmaram ter adquirido medicamentos com ou sem receita no mesmo período.

“A interação com medicamentos é tão estabelecida, que estes jovens escolhem o fármaco não pelo seu efeito direto, mas pelo seu efeito colateral. Nas pesquisas qualitativas ouvimos relatos de adolescentes que tomam medicamentos destinados ao tratamento de alergias para dormir, dado o efeito colateral de sonolência. Já os medicamentos para insônia são muitas vezes usados para ‘dar onda’, eles ingerem, brigam com o sono e entram num estado de relaxamento”, complementa Michel Alcoforado, antropólogo e sócio-fundador do Grupo Consumoteca.

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