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3 perguntas para Romani

O ator e cantor, que participou da série "Maldivas", conversou conosco sobre a cultura cigana, saudade e carreira
por Beatriz Lourenço
9.09.2022
11h48
Romani
Ernesto Andrade/Divulgação
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Mestiço de pai árabe e mãe cigana, Romani cresceu rodeado de duas culturas distintas – o que fez com ele trouxesse ambas as referências para sua arte. Nascido em São Paulo e criado de norte a sul do país, o artista não se considera apenas de uma região, já que passou a infância viajando pelo Brasil com seus pais na carroceria de um caminhão. 

A família vivia da comercialização e reciclagem de mercadorias. “Fiquei dos meus cinco meses aos seis anos viajando com eles. A gente morava embaixo de uma mesa, com uma lona e um colchão”, comenta Romani. “A memória que mais marcou minha vivência de viajante é uma que a minha mãe conta que foi onde ela notou que eu seria músico. Estávamos no Nordeste e tinha um repentista passando e tocando pandeiro. Eu, que estava dormindo, acordei do nada dançando e cantando e até caí da carroceria.” 

Romani
(Ernesto Andrade/Divulgação)

Entusiasta da música, ele começou a tocar violão aos sete anos. Aos 13 anos, quando passou a viver na cidade de São Paulo, começou a tocar em bares da região, embalando o público com canções de Tim Maia e Djavan. Nesse meio tempo, trabalhou em uma agência de modelo e estreou nas telas com Malhação (2015). 

Após diversos papéis, ele participou da série Maldivas, da Netflix, ao lado de Bruna Marquezine, vivendo Denilson – um policial que investiga o crime que atravessa a narrativa da trama. “Os recursos que guardei desse trabalho uso até hoje nos clipes que dirijo e nas produções que participo”, diz. “Aprendi muito no set com os diretores porque estava sempre perguntando o que eles estavam fazendo, quais lentes de câmera eles estavam usando, como organizar o local e quais eram os comandos necessários para a gravação.”

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Na música, os singles “Cigano” e “Forasteiro” falam um pouco de suas vivências, desafios e amores. “O país em que a gente vive é um lugar onde apagam-se as memórias. Por isso que eu incentivo todo mundo a buscar suas raízes para, assim, entendermos de onde viemos e quem lutou e morreu para estarmos aqui”, completa. Abaixo, veja três perguntas para Romani: 

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A música “Forasteiro”, lançada em junho, resgata sua trajetória cigana. O quão próximo você ainda é dessa cultura e quais são as memórias que mais marcaram essa vivência de viajante?
A gente nunca deixa de ser algo que já nascemos sendo – por mais mestiço que sejamos. Meu pai é de família árabe e minha mãe de família cigana, mas não cresci em nenhum desses meios. Era tudo misturado, o que é algo clássico do Brasil, onde há várias culturas diferentes e ninguém sabe suas raízes. O país em que a gente vive é um lugar onde apagam-se as memórias. Por isso, incentivo todo mundo a buscar suas raízes para entendermos de onde viemos e quem lutou e morreu para estarmos aqui. 

Hoje sou mais próximo dessa cultura cigana porque meus pais tinham vertentes muito vivas. Por exemplo, com o hábito de sair e vender coisas pelas ruas. Quando os dois se conheceram, eles saíram comprando panelas, tacho de cobre e tudo o que poderia ser vendido facilmente – aí eles rodaram o Brasil para tentar fazer dinheiro. Até os meus seis anos, moramos na carroceria de um caminhão e viajamos diversos estados de Norte ao Sul. 

A memória que mais marcou minha vivência de viajante é uma que a minha mãe conta que foi onde ela notou que eu seria músico. Estávamos no Nordeste e tinha um repentista passando e tocando pandeiro. Eu, que estava dormindo, acordei do nada me dançando e cantando e até caí da carroceria.  

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Mudar de lugar de tempos em tempos traz um sentimento difícil de lidar: a saudade. Como você lida com despedidas? Teve alguma que foi mais impactante ao longo do seu caminho?
A saudade é bem difícil porque sou uma pessoa que viaja bastante. O que funciona para mim é tentar transformar os amores em música. Mas os amores românticos nem são tão difíceis de me despedir hoje em dia, porque aprendi a lidar com o desapego. O mais complicado para mim é a saudade dos amigos que se foram por conta da vida errada ou injustiças. Ainda assim, espero encontrá-los em outro plano.

Além de cantor, você também atua e participou da série Maldivas. Qual foi o seu maior desafio e quais aprendizados você leva dessa produção?
Estávamos no meio da pandemia quando tudo aconteceu e era um momento em que me sentia muito desesperançoso. Acontece que tinha muita fé que tudo ia dar certo – e deu. Os recursos que guardei desse trabalho uso até hoje nos clipes que dirijo e nas produções que participo. Aprendi muito no set com os diretores porque estava sempre perguntando o que eles estavam fazendo, quais lentes de câmera eles estavam usando, como organizar o local e quais eram os comandos necessários para as gravações. 

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