á cinquenta anos, a historiadora da arte Linda Nochlin escreveu um artigo intitulado “Por que não houve grandes artistas mulheres?” Logo de cara, ela afirma que, na própria pergunta, há um equívoco: houve, sim, grandes mulheres artistas. Porém, elas foram escondidas ao longo do tempo em razão da desigualdade de gênero e falta de visibilidade. De lá para cá, o mercado da arte tem feito alguns movimentos de reparação, como preparar exibições exclusivas de mulheres e adicioná-las aos acervos permanentes.
Mas tudo isso ainda é pouco. Além de menos espaço na área, há a famosa síndrome do impostor, que impede que as artistas se autodenominem como tal, mesmo que sejam incrivelmente talentosas. Marcela Scheid é uma delas e teve que enfrentar seu próprio julgamento quando decidiu desenhar: “Antes de começar a faculdade de design, tinha vergonha do meu traço, achava ele horrível e era muito infeliz porque via pessoas desenhando muito bem e eu não conseguia fazer igual”, revela à Elástica.
Porém, ao entender que a arte é muito mais do que técnica, percebeu que tinha muito para acrescentar ao mundo e passou a desenvolver seu trabalho. “Apostei na colagem por muito tempo. Até que um dia, saindo de uma aula, comprei um sketchbook [caderno de rascunhos] e comecei a treinar mais. Esse foi um exercício interessante que me incentivou a produzir”, diz. “Quanto mais fui fazendo, mais confiante fiquei. Arte não é sobre técnica, é sentimento”.
“A gente reprime muitas questões e as guardamos por muito tempo. Depois de anos de terapia, entendi que a forma como poderia trabalhar tudo o que estava aqui dentro era colocando para fora”
Seu trabalho junta ilustrações de mulheres com o tom vermelho e frases que dizem o que muitas de nós sentimos, mas não conseguimos elaborar. São temas difíceis e profundos: a vulnerabilidade, as alegrias e tristezas das relações e as bagagens que carregamos ao longo do tempo. Todas as ideias vêm de suas próprias vivências e de experiências daquelas que estão ao seu redor. “A gente reprime muitas questões e as guardamos por muito tempo. Depois de anos de terapia, entendi que a forma como poderia trabalhar tudo o que estava aqui dentro era colocando para fora”, conta.
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Em março, a artista levou seu trabalho a outro patamar: atravessou as redes sociais e atingiu novos públicos a partir das colaborações com as marcas Hershey’s e Dzarm. Em uma conversa franca, falamos sobre processos criativos, protagonismo feminino e o exercício da escrita.