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“Aos nossos filhos”: novo filme brasileiro trata de temas essenciais
O drama, que aborda contradições e preconceitos entre mãe e filha, chega aos cinemas em 28 de julho
Todos nós temos preconceitos. Sim, é ruim admitir isso, mas é preciso. Temos preconceitos e precisamos lidar com eles para criar uma sociedade mais empática e igualitária. Essa é uma das premissas do longa-metragem Aos nossos filhos, que estreia dia 28 de julho nos cinemas. A história, que começou como uma peça de teatro criada por Laura Castro, chega às telas com a direção de Maria de Medeiros e tem no elenco nomes como Marieta Severo e José de Abreu.
A produção acompanha Vera (Marieta Severo), coordenadora de uma ONG que cuida de crianças soropositivas e precisa lidar com suas próprias contradições diante da escolha da filha, Tânia (Laura Castro), que deseja ser mãe de uma criança gestada no ventre de sua companheira, Vanessa (Marta Nóbrega). Mesmo sendo uma mulher corajosa e progressista, ela se vê confrontada com o seu passado e suas escolhas quando não consegue aceitar as decisões e o relacionamento homoafetivo da filha.
A história tem muitas nuances, como reflexões sobre as diferenças das gerações de pais e filhos, adoção, inseminação artificial e a violência policial – ilustrando, portanto, as principais discussões do Brasil atual.
O roteiro inicial surgiu em 2012 a partir da vivência de Laura enquanto mãe em uma família homoafetiva. “Tinha três filhos pequenos e vivi muitas coisas ao mesmo tempo. A peça veio do questionamento: quais eram as conquistas que me levavam a poder ter a família que eu tenho?”, relata. “Pensei nas gerações anteriores e nessas mulheres que participaram da luta armada durante a ditadura. Ao mesmo tempo, naquela época a questão LGBTQIA+ não era o foco dessa geração porque havia essa luta principal.” Nós assistimos ao filme e separamos cinco temas essenciais tratados na produção.
Novas estruturas familiares
Todos os personagens de Aos nossos filhos refletem, em algum momento, seu ideal de família. “A própria família de Vera não é tradicional: ela perdeu um filho, está em processo de separação e é uma pessoa que está sempre reinventando a vida”, conta Laura. Além disso, há Tânia e a Vanessa, que precisam reinventar o que elas entendem como maternidade para receber o bebê que irá chegar.
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“Também há um casal de homens que busca a adoção e o próprio abrigo que cumpre esse papel de cuidar”, completa a roteirista. “Quis trazer esses múltiplos olhares, e a ideia de que a família é uma construção que surge através do afeto.”
Somos seres múltiplos
Se você terminou de ver o filme e se perguntou: “de onde vem a homofobia de Vera?”, saiba que somos múltiplos e cheios de preconceitos. Não é porque Vera é progressista que ela está à parte disso. “Na mãe e na filha há prioridades distintas sobre o que cada geração quer transmitir ao próximo. Ambas têm preocupações muito certas e dificuldades de aceitar o outro”, explica Maria de Medeiros.
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Ainda assim, as duas personagens fazem revolução à sua maneira. “Vivemos em uma sociedade patriarcal, cis e heteronormativa que nos ensina determinadas coisas, então todo mundo precisa encarar isso para melhorar suas relações”, completa Laura.
Maternidade
A maternidade é uma decisão difícil que envolve escolhas, transformações e responsabilidade. Uma mulher não precisa de um homem para dar a luz, pode fazer isso sozinha, com outra mulher ou da forma que ela quiser. Nesse sentido, o longa traz protagonistas fortes que escolhem seguir com a inseminação artificial. Mesmo com as dificuldades do processo, as duas seguem felizes por conseguirem realizar o sonho.
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Ditadura militar
O trabalho com memória da ditadura militar é algo que precisa ser continuado e Vera mostra a importância disso para as famílias das vítimas. A ex-guerrilheira perde um filho quando é presa pelo DOPS e tem que lidar com os traumas que o desaparecimento da criança lhe causou.
“Todos os depoimentos que estão lá são reais. São torturas que, de fato, aconteceram com outras pessoas”, diz Laura. “Na filmagem, que ocorreu no período de pré-eleições em 2018, estava todo mundo muito emocionado. Marieta Severo lembrou muito da época do exílio e o medo da extrema direita chegando. Estávamos no set durante o segundo turno e esse contexto está muito claro no longa”.
Para Marieta, essa época foi o pior momento do Brasil porque limitou o desenvolvimento do país e do ser humano. “Esse filme ser lançado agora é uma pérola porque, nesses meses que antecedem as eleições, nós vemos aumentar o fascínio pelo pior regime que existe”, conta. “Meu grande sonho é que o longa conte para as pessoas o que foi essa época.”
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Dos palcos às telas
A diretora conta que recebeu a peça da Laura quando estava na Europa e leu com muita atenção porque era um tema de seu interesse. Nos palcos, o diálogo entre mãe e filha envolve o público sem deixar com que o espectador tome um lado. “Fui para o Brasil para fazer a peça e deu super certo, rapidamente propus a ideia do filme à Laura. Queríamos conhecer mais sobre cada personagem e suas ideias de mundo. O passado da mãe durante a ditadura, suas perdas e essa relação complexa passou a ganhar mais importância no longa”, conta Maria. “Nossa maior dificuldade foi a espera do lançamento, mas ele chega num momento em que esses temas estão sendo mais discutidos e que é preciso redefinir o caminho do Brasil.”
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